quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ninguém se agüentaria!

Se alguém me perguntasse, responderia com toda a certeza do mundo: Ninguém se agüentaria! A bíblia, os pais e amigos próximos nos aconselham dizendo: “não julgue ninguém”, “não julgue para não ser julgado”! Isso é praticamente impossível. Podemos contar nos dedos quem não comete tal erro. Julgar é extremamente comum não pela dificuldade de não fazer um julgamento, mas porque nos recusamos a fazer a auto-avaliação. Ninguém gosta de fazer a auto-avaliação!
É um trabalho chato. Abrimos nosso próprio corpo. Olhamos, reviramos cada tecido com bastante cuidado. Mas a que se deve esse cuidado? Vontade de encontrar e diagnosticar os próprios erros ou esconde-los de nós mesmos? Não se tem pressa. Mas a pressa não existe para podermos encontrar todos os defeitos ou para não acharmos todos esses defeitos.
Ficamos trancados em nossos quartos, chateados com o que acabou de acontecer. Briga no trabalho, na faculdade, com a namorada, com o marido ou com um amigo de longa data? Tanto faz. Perguntamos para nosso coração, mas existe um problema: ele possui dois lados. Um diz que você está certo; o outro diz que você está errado. Qual deles devemos escutar? Aquele que nos puxa a orelha querendo a nossa evolução ou aquele que diz que estamos certo apenas para massagear o ego? Situação difícil porque somos orgulhosos, porque nunca aceitamos que estamos errados.
Já que estamos certo, o outro é quem está errado. Começamos a achar milhões de defeitos e antagonismos nos nossos semelhantes. São chatos, ambiciosos, preocupam-se demasiadamente, fazem tempestade em copo d’água, não conhecem absolutamente nada sobre a vida. O outro sempre está errado, nunca erramos. Não estamos no centro do universo, mas o mundo é incapaz de nos compreender.
Esquecemos de algo fundamental quando julgamos nossos semelhantes: eles são nossos semelhantes! Pensam como nós, agem como nós, dão risadas, cometem erros e envelhecem como nós. Estamos julgando nós mesmos, mas de um jeito diferente. Não suportamos olhar no espelho, mas criticamos sem nenhum pudor os outros que, na verdade, somos nós.
Fazemos isso por uma simples razão: Ninguém se agüentaria! O mundo entraria em colapso e genocídios estampariam manchetes de jornais. Ninguém gosta de descobrir que está errado, ninguém gosta de colocar sobre a mesa todos os seus erros. Mas desfrutamos de um sabor inexplicável ao julgar os outros.
Seria tão bom se ninguém se agüentasse, mas parece ser algo impossível.

Gabriel Medeiros.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A arte de peidar

Peidar. Não sei como e onde o verbo surgiu, mas com certeza existe há muito tempo. China imperial, apogeu Romano ou Atenas de Sócrates? Infelizmente, essa é uma pergunta para a qual não tenho resposta. O peido sempre existiu, é algo natural da condição humana. Não se pode se livrar de um peido. Se os seres humanos adotam os cachorros, o peido assemelha-se aos gatos, ou seja, eles nos escolhem. Aliás, acho que os peidos não nos escolhem. Surgem com a gente no momento do nascimento e vão se adaptando de acordo com a construção, evolução de nossa personalidade. Ao longo da vida, podemos nos enquadrar, devido nossos peidos, em vários perfis de peidantes.
O sujeito quando é extrovertido, brincalhão e que fala no último volume, nunca tem o peido discreto. É barulhento, arrasa quarteirão, um excêntrico de carteirinha. É o peido que faz o famoso tipo “olhem para mim”. Não aceita ser mais um na multidão que constantemente passa despercebido. Precisa ser notado, custe o que custar. 15 minutos ou 15 segundos? Não faz diferença, porque fama sempre é bom. Aparecer é o primeiro requisito.
Quando o cara é baixinho, magrelo e introvertido, cuidado. Muito cuidado mesmo. Nos menores frascos, ou melhor, nos menores corpos, encontramos os piores peidos. Não fazem barulho algum, saem à francesa. Se tivesse que compará-los a um animal, diria que eles são como os tigres. Caminham lentamente, sem fazer barulho e, quando percebemos, surgem da “caverna” atacando os inofensivos que estão por perto. São letais. O que sai mais prejudicado com a história do “peido tigre” é o gordinho da turma. Aliás, aproveito o espaço para fazer um protesto: Por que os gordinhos são sempre apontados como os responsáveis pela emissão de metano? Isso acontece em todos os lugares com gordinhos de todas as idades. Gordinho também peida, disso não tenho dúvidas, mas os magrelos são os piores.
Gente rica também peida, meu povo. Mas o peido de gente rica não tem graça, porque o rico é meio fresco quando o assunto é peidar. Não peida na frente da turma, precisa ir ao toalete. Chega lá, onde não tem ninguém, ao não ser o seu próprio reflexo no espelho, e fica com vergonha de peidar. Para que isso? Solta, libera o flato de uma vez. É tanta frescura para nada, porque peido de rico não fede. É só alarme falso. Como já disse, o peido retrata a personalidade do indivíduo. Assim, o rico fresco, solta um peido fresco, estilo Cristiano Ronaldo. Precisa de um lugar só para ele, para, muitas vezes, não fazer nada.
Mas o que mais me deixa impressionado é o peido de quem tem o dom para peidar. É o chamado “peido coringa”. É um cameleão, muda sempre, se adapta a qualquer situação. Quando o dono de um peido coringa está em uma feijoada com pagode no último volume, resolve fazer parte do grupo musical e solta o peido “booom”, semelhante ao surdo utilizado por bandas de samba. Se ele está em um evento apenas com pessoas ricas, numa Daslu da vida, solta o peido fresco do rico, sempre, é claro, no toalete. Quando o ambiente é novo e totalmente desconhecido, solta o peido do introvertido. Assim, ele deixa o seguinte recado: “se mexer comigo, solto mais”. É o crime prefeito.
E você, meu caro produtor de metano, se enquadra em qual tipo de peidante? Não precisa falar, pois quando eu te conhecer, vou saber de cara. Não adianta tentar fingir, porque uma hora ou outra, a verdade sai, ou melhor, o peido sai.

Gabriel Medeiros.