domingo, 21 de fevereiro de 2010

Roçar ou Coçar?

Começo pedindo licença ao brilhante escritor inglês William Shakespeare, pois terei que alterar uma de suas mais famosas frases. A mudança é a seguinte: Roçar ou coçar, eis a questão. Isso não surgiu do nada, tendo forte relação com minhas férias em Carajás. Um mês e meio para ser mais exato. Andei por todas as ruas do núcleo, fui ao parque zoo, à famosa mina e desci a serra para chegar a Parauapebas. Dentro ou fora do núcleo, um fato que chamou minha atenção foi a atividade conhecida como “Roço”. Para explicar de maneira simples, ela consiste na limpeza de áreas urbanas e encostas de estradas que são invadidas pelo mato. O curioso não é o nome dado para a atividade, mas o número de pessoas envolvidas na limpeza. São três trabalhadores. Para cada local que deveria ser limpo, três pessoas eram deslocadas para realizar uma atividade que é considerada simples. Funcionava da seguinte forma: enquanto o operador da máquina cortadora acabava com o mato, outros dois eram responsáveis pela sustentação da tela protetora. A finalidade da tela era impedir que pedregulhos atingissem carros e pessoas. Algumas vezes, durante o meu período de férias, pensei: “Por que apenas um corta, carrega todo o equipamento pesado e os outros seguram a tela com uma mão e coçam com a outra? Não existe outra forma de aproveitar os que estão parados e aumentar a produtividade? Um brilhante funcionário da Vale de Carajás (quem será?) me informou por telefone que a operação limpeza (codinome: Roço) sofreu alterações que aumentaram a produtividade da operação Roço. Mas, como minhas férias já tinham terminado, não pude ver a mudança. Se antes eram três, agora são dois. Mas como ser mais produtivo com menor número de pessoas trabalhando? Por produtividade, entende-se a quantidade produzida pelo valor aplicado a produção, ou seja, eficiência produtiva. O responsável pelo aumento da produtividade da operação “Roço” chama-se Apito. Não pense que estou falando de alguém de baixa estatura, magro, que fala alto e que muitas vezes incomoda os outros. Estou falando do apito de verdade, aquele que emite um sinal estridente, peculiar, incômodo e custa apenas três reais! Enquanto o operador corta a grama, apenas um funcionário permanece observando o movimento das regiões próximas, sem tela de proteção. Carrega consigo o simples e arrebatador apito. Quando algum carro ou pessoa se aproxima do local onde é realizada a operação “Roço”, o apito é acionado e fazendo com que o cortador interrompa momentaneamente o trabalho. Basta o carro ou a pessoa se afastar para que a atividade seja reiniciada. É simples, barato e eficiente. Com isso, eliminamos a tela que precisava ser deslocada a todo o momento e um funcionário que, com o perdão da expressão, só coçava... Bom, todos somos adultos e você sabe o que estou dizendo. Veja que a taxa “Coçamento” foi reduzida em 50%. Algo incrível feito por Apito, o senhor produtividade. Por incrível que pareça, dois funcionários estão produzindo mais que três. Isso já foi comprovado. Mas o que chama atenção mesmo é a lição que podemos tirar da história “Apito na Operação Roço”.


Devemos olhar com mais atenção as coisas que julgamos como insignificantes. Assim, descobriremos que na maioria dos casos a insignificância está na cabeça de cada um de nós, insistindo que não vejamos o óbvio. Afinal, quem acreditaria que um simples apito de três reais seria mais produtivo que uma terceira pessoa? Este terceiro que não segura mais a tela de proteção poderá ser deslocado para outra operação. Caso sinta saudades dos velhos tempos, poderá coçar enquanto apita, mas isso não vem ao caso. Teremos o núcleo e encostas das estradas limpas. A manutenção se torna mais fácil. Segurança e qualidade para todos! Temos que aprender com o caso do apito. Temos que levar a mensagem para nossas casas e trabalho. Vamos olhar com cuidado as coisas simples. Nós somos os responsáveis por criar a complexidade das coisas que enfrentamos. Vamos descobrir novos apitos de três reais. Estão em todos os lugares e querem nos ajudar. Querem que sejamos mais produtivos. Olhe para o lado com um pouco mais de atenção e você descobrirá mais apitos. PROCURE O APITO!

Bom, vou encerrando por aqui. Sempre gostei de fazer textos bem humorados, mas esse já está muito auto-ajuda. Estilo Augusto Cury, tá ligado?

P.S: Se bem que o Augusto Cury tá rico com essas paradinhas de livros e palestras de auto-ajuda. Até que não seria má idéia fazer uma graninha com isso, né? Porque a vida de estudante universitário, meu amigo, é cruel.




Gabriel Medeiros