quinta-feira, 4 de março de 2010

O Mistério do Papel Higiênico

Mistérios e perguntas. Todos nós sabemos que eles movem o mundo, impulsionam a corrida do conhecimento. Os dois estão associados. Quem nunca teve perguntas como: De onde viemos? Para onde vamos? Existem forças sobrenaturais? Elvis realmente morreu? Estes são alguns exemplos e podemos encontrar muitos inimagináveis, bastando digitar teorias da conspiração no Google ou lendo um romance de Dan Brown, escritor norte-americano. Mas o mistério que mais perturba minha mente é o seguinte: Quem decide o cheiro que um papel higiênico deve ter?

Sei que parece difícil, mas tentarei desvendar este terrível mistério descrevendo uma cena pouco convencional e, para mim, perturbadora. Você já deve ter visto cenas parecidas em produções hollywoodianas, mas descreverei do mesmo jeito. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

Sala de reunião, nove horas e trinta minutos da manha. Executivos muito bem alinhados em seus ternos italianos, relógios suíços nos pulsos, mas com as terríveis canetas quatro em um (azul, vermelho, preto e verde). A parte da caneta serve para mostrar que ninguém é perfeito, tá certo? Alguns conversam entre si, outros fazem rabiscos incompreensíveis para matar o tempo. Todos estão esperando o todo-poderoso, diretor de Marketing da empresa de papel higiênico. O cara tem MBA, Doutorado no exterior e demite, no mínimo, um por semana para não perder a forma. “Não podemos ficar para trás em nada, absolutamente nada”. Esta é uma de suas frases preferidas. A grande porta de vidro se abre e por ela passam o todo-poderoso e sua fiel assistente. As conversas terminam no mesmo momento. Laptops preparados, anotações ao lado e planilhas elaboradas no Excel estão abertas. O diretor caminha até sua cadeira, senta-se e deseja bom dia a todos. Os demais retribuem a gentileza do chefe, mas, na verdade, apenas cinco dos vinte presentes desejaram o bom dia com sinceridade. Detalhe: era a primeira semana deles e ainda não tinham levado a famosa bronca do chefe, o que mudaria logo após a reunião na sala do todo-poderoso. Com a cara fechada, o chefe encarava todos. Querem puxar meu tapete, me apunhalar pelas costas, pensava o diretor. Para tirar a prova dos nove, decide usar a velha e infalível tática da piada sem graça. Lembra daquela do pintinho que não tinha bunda, foi peidar e explodiu? Pois é, foi contar esta terrível piada e todos riram no mesmo instante, sendo que alguns até perderam o ar de tanto rir. Ele colocou o sorriso falso no rosto. Agora sei que todo mundo quer puxar meu tapete, pensou. Ele pergunta para a assistente qual o motivo da reunião e ela informa:

Assistente: Queda na venda dos papéis.

Diretor: Quedas? Em que público?

Assistente: Nos adolescentes de 13 a 17 anos e nos adultos de 37 a 45.

Diretor: Alguém tem algum dado que possa ilustrar a situação?

Um executivo levanta de sua cadeira e faz a intervenção:

Executivo: É claro. Elaborei uma pesquisa e montei o seguinte gráfico – fala apontando para um televisor de LCD de 42 polegadas que era de fundamental importância nas reuniões - Ele mostra que entre os adolescentes nossas vendas diminuíram 30 por cento e 27 entre os adultos de 37 a 45 anos de idade.

Diretor: Ok.

Executivo: Como assim? Só ok? Não vai me parabenizar pelo trabalho que fiz?

Diretor: Não! Você só fez a sua obrigação, só isso.

Os demais respiram aliviados. Uma resposta dessas mostrava que o chefe estava de bom humor. Algo tão raro quanto ver o sol e o céu limpo em Londres. Eu nunca fui para lá, mas já me disseram e procuro confiar nas fontes. O diretor continua:

Diretor: Alguém sabe o porquê da queda nas vendas?
O estagiário sabia a resposta, mas preferiu não falar nada. Afinal, estagiário está errado até quando está certo. Desta forma, o novato da empresa, aquele que estava no grupo dos cinco que ainda não tinham levado bronca, respondeu:

Novato: O cheiro não está agradando.

Diretor: Sinto muito, não posso fazer nada quanto aos problemas intestinas dos consumidores dos papéis Curral Cheiroso.

Novato: Mas o problema é com o cheiro dos nossos papéis. Esses grupos não estão gostando, muito menos se identificando.

Diretor: O que você sugere então?

Novato: Sugiro uma reformulação geral, para todos os grupos. As pessoas adoram novidades. E vamos falar a verdade, os cheiros maçã-verde e lavanda já estão defasados. Quem será que teve essa idéia terrível?

Diretor: O dono da idéia terrível está falando com você nesse exato momento.

Silêncio sepulcral na sala de reunião, medo nos rostos. Você poderia dizer tudo o que quisesse naquela empresa, menos que as idéias do todo-poderoso eram ruins e suas piadas sem graça. Tudo, menos isso. Como a idéia era boa, o novato pôde completar o raciocínio.

Novato: Os adolescentes acham que podem tudo, desafiam o mundo e acreditam serem os donos da verdade. Devemos escolher algo que eles detestam e bolar um cheiro ligado a isso.

Diretor: Como o que?

Novato: Matemática!

Diretor: Matemática? E que cheiro lembra matemática?

Novato: Eucalipto.

Diretor: Pelo amor de Deus, em que eucalipto lembra matemática?

Novato: Esse é o cheiro do desinfetante utilizado pelas escolas para limpar as salas de aula. Assim, quando eles souberam que o papel Curral Cheiroso tem a linha Eucalipto, vão comprar aos montes, pois estarão descontando a raiva na matemática, sujando ela de merda. Eles vão pensar que estão desafiando e vencendo o sistema. Quem sabe a gente poderia lançar uma linha especial que possui equações e problemas matemáticos impressos. Vai ser sucesso entre alunos de todo o Brasil. Vamos virar matéria de jornais com a seguinte manchete: ALUNOS CAGAM NA MATEMÁTICA! POLÊMICA: LUGAR DE MATEMÁTICA É NO VASO! Se bobear, poderíamos aparecer no programa da Luciana Gimenez. Quer publicidade melhor que essa?

Todos se olhavam ressabiados, sabiam que o novato tinha assinado sua sentença. Mas para surpresa geral, o diretor falou:

Diretor: Seu ponto de vista é interessantíssimo! E o que devemos fazer com o outro público, o dos adultos de 37 a 45 anos?

Novato: Essa é uma classe que trabalha muito, possui uma rotina estressante com alta carga horário. Ao chegar em casa, tudo o que eles querem é relaxar. Seja com um banho quente, uma boa refeição ou assistindo a um bom filme. Devemos trazer um cheiro que perfume o banheiro e faça o trabalhador querer ficar lá por um bom tempo, cagando ou não. Devemos captar paisagens tranqüilas e belos lugares. Acho que vinícolas chilenas ou tulipas holandesas podem nos ajudar.

Diretor: Perfeito, simplesmente perfeito. Alguém discorda?

Típica pergunta que não devia ser respondida naquela empresa. Se o chefe gostou, goste também. Todos bateram palmas, as mudanças foram aprovadas e o trabalho voltou ao normal. Duas semanas depois os novos produtos chegaram às prateleiras de todos os mercados brasileiros. Sucesso absoluto que rendeu um programa da Luciana Gimenez.

História concluída. Como afirmei no inicio, esta foi uma tentativa de desvendar o mistério do cheiro do papel higiênico. Mas a dúvidas permanecem, o mistério permanece. Será que a decisão é tomada dessa forma? Para que um papel perfumado se no final ele vai ficar sujo e fedorento de merda? Será que as pessoas têm preferência por cheiro ou será um preconceito do tipo: Não suporto o de pêssego. Se não for lavanda, não quero! Por favor, ajude-me a desvendar o mistério do papel higiênico.

Gabriel Medeiros.